Existe um tema muito importante quando falamos com um cliente private ou de wealth management. Importante conhecermos, pois precisaremos explicar os prós e contras dos fundos exclusivos. Muitas pessoas focam em produtos, assessores assim existem aos montes hoje em dia no mercado. Mas como sabe, o que acredito que é o diferencial, aliás o fundamental é olhar o todo e analisar qual tipo de solução – e não produto – o seu cliente realmente precisa e a jornada pela qual vocês precisarão passar juntos para que ELE possa alcançar seus objetivos.
Então, vamos começar entendendo: O que são os fundos exclusivos?
Um fundo exclusivo nada mais é, do que um fundo de investimentos, assim como aqueles que encontramos nos bancos e corretoras, porém esse como o nome indica, é um fundo onde todas as cotas pertencem a um único dono (cotista).
Ou seja, os fundos de investimentos como conhecemos, são produtos financeiros abertos e coletivos. Ou seja, cada investidor aporta o seu dinheiro, que é somado ao patrimônio líquido do fundo. Esse montante é dividido pelo valor da cota e cada investidor (cotista) tem determinado número de cotas daquele fundo. O patrimônio do fundo é usado para comprar os produtos financeiros que o gestor define de acordo com o mandato (características) do fundo.
No caso do fundo exclusivo, ele é criado para apenas um único investidor e a carteira é personalizada – pelo menos deveria ser assim – para se adequar ao perfil e os objetivos do dono do fundo (cliente/único cotista).
Outro ponto interessante, assim como no caso dos fundos convencionais, a alocação dos recursos – compra dos produtos financeiros – não é feita pelo investidor e, sim, por um gestor profissional, geralmente com um mandato discricionário. Caso não conheça ainda esse termo, mandato discricionário consiste na delegação das decisões de investimento relativas aos respetivos ativos ao gestor contratado. O gestor profissional coloca em prática a estratégia aprovada, escolhendo ativos, realizando as operações de compra e venda e fazendo o rebalanceamento da carteira.
Ficou claro?
Então vamos entender quais são as vantagens, por que seu cliente poderia se beneficiar com um fundo exclusivo?
1o Carteira totalmente personalizada para se adequar as características e objetivos do investidor
Um dos principais motivos pelo qual os investidores buscam criar um fundo exclusivo é a personalização que ele possibilita. O fundo, por ser de apenas um único cotista, não precisa seguir nenhuma regra específica de alocação, como vemos nos fundos normais abertos.
A definição da estratégia é pensada e feita sob medida para o cliente. Porém, infelizmente vemos frequentemente no mercado soluções vendidas dessa maneira para o cliente, mas quando entramos na cozinha, vemos que é mais do mesmo. Vale a pena orientar seu cliente e alinhar de fato o nível de serviço e personalização que busca.
2o Permite que o cliente continue focado no seu negócio/profissão
Com uma gestão profissional, onde todos os investimentos são executados por um gestor e um time altamente competente, o cliente não precisa se preocupar em acompanhar o mercado, fazer e nem mesmo aprovar as operações.
A gestão e administração profissional, cuida de todas as tarefas essenciais à manutenção da estrutura do fundo. Desse modo, enquanto o cliente mantem seu foco no seu trabalho, a gestão não perde tempo esperando uma aprovação de uma alocação oportuna por exemplo.
3o Diferimento tributário
Com um fundo exclusivo conseguimos ser ainda mais eficientes no tema de planejamento tributário. O efeito multiplicador do diferimento tributário é alcançado, pois as compras e vendas dos ativos dentro do fundo, temos isenção de Imposto de Renda.
O IOF, o IR que é devido ao apurar o lucro de cada operação, e até mesmo as “tungadas” que o governo faz com o come-cotas em maio e novembro, não incidem nos fundos exclusivos.
Ou seja, podem ser realizadas inúmeras compras e vendas com o lucro que houver que o imposto de renda não será cobrado antes do resgate das cotas. Como consequência, ocorre o ápice do juros sobre juros, é o maior nível do termo “o dinheiro trabalhando” que podemos alcançar para o nosso cliente.
4o Blindagem patrimonial
Ao decidirmos estruturar um fundo exclusivo, o cliente some, ele passa a não mais investir como pessoa física, Ele começa a realizar os seus investimentos por meio do CNPJ do fundo. Com isso, alcançamos um melhor nível de blindagem patrimonial. Os recursos aportados são desvinculados do seu patrimônio pessoal.
Cabe aqui lembrar que o fundo exclusivo continua sendo um fundo de investimentos, apesar de suas características peculiares. Por esse motivo, continua com as mesmas obrigações e tem que ser registrado junto à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
5o Ferramenta que facilita o processo de sucessão patrimonial
Um dos grandes problemas que enfrentamos quando buscamos manter e perpetuar o patrimônio das famílias que cuidamos é o inevitável momento da sucessão patrimonial. Esse tema ainda é tabu para o brasileiro, mas não é o caso para os clientes com perfil de alta renda. E nesse caso, o planejamento sucessório é bastante facilitado com a criação de um fundo exclusivo.
Com essa ferramenta é possível realizar a doação das cotas do fundo, mantendo o usufruto por exemplo, o que facilita a transição dos valores. Você deve concordar comigo que é muito mais simples e fácil fazer a transferência das cotas do fundo, do que ter que partilhar inúmeras investimentos de modo individual, correto?
Como mencionei, as cotas podem ser doadas em vida, evitando problemas futuros com o inventário e com a distribuição de bens. Além disso, é importantíssimo ressaltar que a gestão se mantém ativa, cuidando e movimentando as alocações se necessário, até que seja resolvido o processo de sucessão. Com isso, eventuais oportunidades de entradas e saídas não são perdidas, o que geralmente ocorre e afeta o patrimônio de toda a família quando não existe tal solução.
A partir disso você pode pensar: “ok já percebi que todos deveriam buscar esse tipo de estrutura pois os benefícios são incríveis”. Realmente os pontos positivos são muito importantes, porém antes de sairmos oferecendo a criação de fundos exclusivos para todos os clientes daqui pra frente, precisamos conhecer os pontos negativos também, para podermos ponderar se de fato é a melhor solução para cada caso em particular.
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E de fato existem desvantagens num fundo exclusivo, são elas:
1o Altos custos de criação e manutenção
Um dos principais pontos negativos são os custos. O investidor é o responsável por pagar por toda essa estrutura e geralmente esses valores superam a casa dos milhares de reais ao ano. O que assusta muito as pessoas, ainda mais aqueles clientes que são mais sensíveis a custos.
2o Planejamento financeiro muito bem estruturado
Como comentei no 3o ponto a favor devido ao diferimento tributário com a isenção do come-cotas, isso só existe para os fundos exclusivos fechados. Caso seja escolhida a criação de um fundo aberto, o famigerado come-cotas estará presente. Porém, como queremos que o dinheiro do nosso cliente fique todo lá dentro do fundo se multiplicando exponencialmente, na imensa maioria dos casos adotamos a estrutura dos fundos fechados.
Dessa forma, só é permitido no máximo um resgate a cada 12 meses. Justamente por esse motivo o desenho do planejamento financeiro deve ser muito bem feito e alinhado com o cliente para evitar problemas de liquidez.
3o Estrutura para investidores profissionais
Quando pensamos em estruturar um fundo exclusivo, falamos de um investimento inicial de no mínimo R$10 milhões. Apesar de que pelas normas da CVM, o fundo exclusivo seja destinado a investidores qualificados, ou seja, clientes com no mínimo R$1 milhão de “liquidez” aplicado em investimentos, devido aos custos comentados pode não fazer sentido para um volume como esse.
4o Produtos financeiros com isenção de Imposto de Renda para pessoa física
Acredito que, junto com o montante mínimo, esse seja o ponto principal de aderência ou não para cada perfil de cliente. Volto a reforçar a importância da busca pelo entendimento das necessidades, sonhos, objetivos, perfil, momento de vida, ou seja, todos os detalhes quantitativos e qualitativos antes de definir por qualquer tipo de estrutura.
Produtos incentivados, com lastros imobiliários e agrícolas por exemplo, que tem o benefício de isenção de tributação dos rendimentos para pessoas físicas, perde essa característica dentro de fundo que é uma pessoa jurídica.
Conclusão
As características que favorecem a constituição de um fundo exclusivo são inegáveis. Quando cuidamos de pessoas, famílias com patrimônio líquido expressivos, devemos saber mencionar esses benefícios e além disso, conscientiza-los também das desvantagens e situações que pesam contra. Ao fazermos isso, associada a uma análise global da situação financeira e patrimonial muito bem fundamentada, com certeza agregaremos muito valor na relação e ajudaremos os clientes a tomarem a melhor decisão.